ESPAÇAMENTO – Reverberações de experimentações

Espaçamento é o resultado artístico da pesquisa Trilogia da Arquitetura Desconstrutivista, projeto que dá continuidade à trajetória de experimentação de Cláudio Lacerda/Dança Amorfa e que foi inspirado em obras arquitetônicas da vertente desconstrutivista, cujas palavras-chave são deformação e deslocamento. A proposta foi fazer um cruzamento entre os meios da dança e da arquitetura: tendo o espaço como o fator em comum, trazer para a dança a materialidade, a estaticidade e o objetivo primeiramente funcional, próprios da arquitetura, e trazer para a arquitetura o corpo, o movimento, a temporalidade, a efemeridade e o objetivo deliberadamente estético, próprios da dança. O lugar para este cruzamento foi o(s) corpo(s) no espaço. Na pesquisa, houve um entrelaçamento de áreas do conhecimento: a teoria da desconstrução de Jacques Derrida, a Arte Minimalista, a Arquitetura e os Estudos da Dança. Houve também diálogos com consultores das áreas de Filosofia, Arquitetura, Artes Plásticas e Dança, que testemunharam e conversaram sobre o processo. Conceitos derrideanos como espaçamento, rastro e centro faltante estimularam a pesquisa coreográfica, as relações que se estabeleceram entre dança, espaço cênico, bailarinos e som e as relações entre as disciplinas envolvidas. Trabalhamos com forças ativadas pela: deformação, deslocamento, corte, dissecação de formas, diferentes perspectivas, simultaneidades, dissociações, sincronicidades, colisão de partes, justaposição de descontinuidades, temporariedade e transitoriedade, camadas, curvas complexas e torcidas, linhas verticais e horizontais, isolamentos, inclinações, transformações. Em Espaçamento, o corpo é o lugar de trânsito dessas forças, irradiando no espaço. Espaçamento surgiu com um potencial enorme para dialogar com diversas propostas de espaço cênico – galerias de arte, espaços abertos, sítios históricos, teatros, etc – e também para abarcar trilhas sonoras diferenciadas, além do próprio silêncio, nossa primeira versão. Nesta temporada, exploraremos os seguintes espaços: Paço Alfândega, Galeria Janete Costa (Parque Dona Lindu), espaços do Parque Dona Lindu (Galeria Janete Costa, esplanada e rampa de acesso ao teatro) e MAMAM – Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães. E trabalharemos com as seguintes trilhas: intervenção de músicos ao vivo, composição eletrônica, Bach e subjetividade dos bailarinos (narrada em off). O diálogo com projeções de vídeo também se mostrou promissor. Exploraremos imagens de diversos estágios do trabalho, como: obras arquitetônicas que nos inspiraram, ensaios e apresentações feitas até o momento. A experimentação também se projetou para o figurino, mostrando visões diferentes do designer para os pontos de partida e conceitos do projeto. Assim, resolvemos trazer a experimentação, já forte e presente nos processos criativos anteriores, também para o produto artístico a ser fruído pelos espectadores, estes sendo elementos essenciais nessa fruição. Anteriormente a esta temporada, estendemos a proposta para apresentações em ambientes educacionais, com o intuito de estreitar laços entre arte, universidade e escola. Um outro desdobramento do espetáculo é a exposição da instalação de vídeo Espaçamento Exposto, proposto pela Galeria Janete Costa (Parque Dona Lindu). Cada apresentação será única em sua fruição e, por isso, convidamos todos a presenciarem mais de uma, no mínimo, e sentir o espetáculo se fazer diferente a cada vez. Esperamos que essa proposta e esses desdobramentos sejam tão instigantes para vocês quanto está sendo para nós. Cláudio Lacerda e equipe