

ESTREIA 09 de ABRIL 2010
REAL/DUPLO
Este trabalho nasceu de uma inquietação acerca do que constitui o real: O que é essa realidade? Existem outros planos que sejam mais ou menos reais? Existe algum Real-matriz a partir do qual se desdobrem outros reais, duplos desse Real?
São perguntas complicadas e abundam autores e pontos de vista diversos acerca desse assunto. Em busca de referências, visitei a Filosofia, a Psicanálise, o Cinema e a Literatura. Não obtive respostas certeiras ou definitivas, mas me enriqueci de algumas novas visões.
Tratar esse assunto em dança é um desafio, mas, ao mesmo tempo, o campo da dança o favorece, pois, segundo José Gil, “O corpo do bailarino (...) é composto de uma multiplicidade de corpos virtuais. [...] Assim, a unidade de movimento virtual (ou a unidade virtual de movimento) cria um espaço onde ‘se pode pôr tudo’, espaço de coexistência e de consistência das séries heterogêneas”. Assim, assumi esse desafio.
Três autores em especial me forneceram alimento: Clément Rosset apresenta tipos de mecanismo ilusório que utilizamos para nos esquivar do Real, e termina convidando a nos integrarmos ao Real, dizendo que a simplicidade reside em fazer o Real coincidir com seu duplo, em o Real coincidir com o Real; Gilles Deleuze sugere o desejo como ligador dos fluxos, do produzir e do produto, o corpo operando como superfície deslizante, opaca, tensa; Sigmund Freud, a partir do conceito de sobredeterminação, sugere que todo conteúdo inconsciente — aliás, tanto os pensamentos dos sonhos quanto os da vigília — acontece em um sistema de ramificação de linhas, mas particularmente, linhas convergentes.
Diante dos argumentos desses autores, polos de instâncias como passado-presente-futuro, consciente-inconsciente, centro-periferia, eu-outro, realidade-sonho, matriz-repetição mostram-se mais fluidos e menos fixos do que pensávamos, ou gostaríamos, que fossem.
A pesquisa de movimento foi ativada a partir de dois motes básicos: um corpo que se deixa reverberar, a partir de pequenos estímulos, vindos tanto do centro quanto da periferia; e um corpo que se deixa dissolver e descentralizar.
O diálogo com o artista Rodrigo Braga (rodrigobraga.com.br)possibilitou materializar essas ideias no palco.
No espetáculo, há o corpo no palco, o corpo nas telas, o corpo em espaços de vão, todos como superfícies deslizantes, como linhas convergentes, sítios de coincidência do Real e seu duplo.
Ofereço ao público esses corpos. Façam com eles o que quiserem.

INTERREGNUM (2006-2008)
INTERREGNUM é um duo criado especialmente para um espaço ou situação de arena. Teve como pontos de partida a iminência de dissolução do corpo no espaço — inspirado por "Uma Descida ao Maelström" e "O Poço e o Pêndulo" de Edgar Allan Poe — e a fragilidade das fronteiras interno/externo e sujeito/objeto - inspirado pela categoria "abjeto" de Julia Kristeva. Plasticidade e subjetividade se entrelaçam, sem o uso de uma linha narrativa, deixando uma abertura ao espectador para construir o seu olhar.
Contemplado com o PRÊMIO FUNARTE KLAUSS VIANNA DE DANÇA com o patrocínio da Petrobrás.
Criada em 2006, Rio de Janeiro.
Temporada de estréia: Teatro Cacilda Becker, Rio de Janeiro, 30/11 a 10/12/06.
Duo
Duração: 40’
Concepção, Direção e Coreografia: Cláudio Lacerda
Bailarinos: Cláudio Lacerda e Juliana Siqueira
Produção Executiva: Enaile Lima
Desenho de Luz: José Geraldo Furtado
Trilha Sonora: Paulo Baiano
Figurino: Daniela Vidal, Cláudio Lacerda
Design: Christiano Menezes
Fotografia: Ana Paula Oliveira
Apoio: Centro Cultural José Bonifácio (RJ), Centro Apolo-Hermilo (PE)
Aprovada segunda temporada em 2008 pelo Funcultura/PE.

DESERTO ARESTA (2008)
DESERTO ARESTA teve como ponto de partida a arquitetura desconstrutivista, o impacto visual e sensação de estranhamento e deslocamento que advém de suas obras. A partir da reverberação destas sensações no corpo, trabalhamos os aspectos característicos que mais me instigaram nas obras dos arquitetos pesquisados: corte, dissecação de formas e conteúdos vistos de diferentes perspectivas simultaneamente; sincronicidade de espaços dissociados; colisão de partes; justaposição de descontinuidades; incorporação dos aspectos temporários e transitórios do processo de construção; revelação da construção como camadas; inclinação de novas formas a partir do original; curvas complexas e torcidas, curvando linhas verticais e horizontais. No corpo “como um deserto” (Malevich), camadas de sensações, formas e movimentos se superpõem.
Criado com a subvenção do projeto O Solo do Outro do Centro Apolo-Hermilo (PE). Temporada de estréia: projeto O Solo do Outro/ Centro Apolo-Hermilo, 23 e 30/10 e 06/11/08.
Solo
Concepção, Direção e Coreografia: Cláudio Lacerda
Bailarina: Juliana Siqueira
Pesquisa de movimento: Cláudio Lacerda e Juliana Siqueira
Iluminação: José W Júnior
Trilha sonora – concepção e compilação: Cláudio Lacerda
Músicas/Sons: Stockhausen/Andersen/Héral/Rypdal, Gabrielle Roth, Portishead, Efeitos de som.
Apoio: Centro Apolo-Hermilo e funcionários, Espaço Companhia dos Homens, Cláudia São Bento.

VENTO POEIRA LARVA (2005)
Repetição e vontade de Transformação. Este trabalho originou-se de minha perplexidade perante os mecanismos de repetição, seja na história pessoal, na História ou na compulsão humana à Repetição. Pergunto-me se é possível identificar nos ciclos e padrões de repetição seus pontos X, e transvasá-los (Deleuze). À procura de pistas, visitei as áreas da Filosofia, Psicanálise, Literatura, Cinema e Estudos da Dança, tecendo uma rede de referências e alguns caminhos se abriram. Trabalhando estas questões em meu corpo na criação coreográfica, transitei ainda mais por fendas, lacunas e vãos, lugares de pesquisa sempre visitados ao longo de minha trajetória como coreógrafo. Vento Poeira Larva procura instigar o espectador a mergulhar nestes vãos, fazendo suas associações, trazendo suas imagens, e nelas arquitetar possíveis transformações.
Criada ao longo de 2001 a 2004, Recife e Rio de Janeiro.
Estreada no Panorama Rio Dança, Espaço SESC, Rio de Janeiro, 30/10/05.
Apresentada em:
- XI Festival de Dança do Recife, 12 e 13/10/06.
- Dança Contemporânea no Apolo-Hermilo, Recife, 18 a 27/04/08
Solo
Duração: 30’
Concepção, Direção, Coreografia e Interpretação: Cláudio Lacerda.
Trilha Sonora: Paulo Baiano e Cláudio Lacerda.
Texto em off: “Vento e Poeira”, Cláudio Lacerda.
Vozes em off: Lúcia Romano, Rubens Tibau, Suely Mesquita, Cláudio Lacerda.
Texto ao vivo—trechos de: “Amor à Flor da Pele”, Wong Kar-Wai; “Diferença e Repetição”, Gilles Deleuze; “A Paixão segundo G.H.”, Clarice Lispector.
Desenho de Luz: José Geraldo Furtado.
Figurino: Cláudio Lacerda.

BOLHAS EM INTERFACE (2005)
Bolhas em Interface trata das negociações das cinesferas (‘espaço pessoal’ em Laban) nos âmbitos público e privado, individual e coletivo, psicológico e social, em busca de satisfazer necessidades de comunicação, afetividade, dominação e aceitação. Paralelamente, explora-se o locale social e político onde estas pessoas/cinesferas vivem, observando aspectos de dominação e auto-afirmação da cultura dominante na condição pós-colonial brasileira/ pernambucana/ recifense. O corte nesta “cebola” cinesférica-social-política expõe as várias camadas de um indivíduo em sociedade.
Através de uma estratégia da alteridade, ou seja, retornando o olhar para nós próprios como se fôssemos Outro, procuramos um desvelamento duplo: procurar e expor brechas nas superfícies de nossas relações sociais e pessoais e relativizar e descentrar o olhar institucional da cultura dominante na construção da identidade cultural brasileira/ pernambucana/ recifense.
O que advirá deste auto-estranhamento? Talvez muito pouco de auto-afirmativo, mas algum genuíno conflito da condição da contemporaneidade neste novo início de século nesta terra pré-, pós- e colonial ao mesmo tempo, multirracial e transcultural.
Criada em 2005, Recife.
Temporada de estréia: Teatro Hermilo Borba Filho, Recife, 21 a 24/07/05
Apresentada em:
- Janeiro de Grandes Espetáculos, Teatro Armazém, Recife, 30/01/06
- Diálogos Dentro e Fora do Eixo, SESC Ipiranga, São Paulo, 28/07/06.
Grupo
Duração: 50’
Concepção, Direção e Coreografia: Cláudio Lacerda
Bailarinos: Calixto Neto, Fernanda Lisboa, Kleber Lourenço, Valéria Vicente
Direção Musical: Paulo Baiano e Cláudio Lacerda
Iluminação: Horácio Falcão
Produção executiva: Marcelo Sena e Valéria Vicente
Programação Visual: Fernanda Lisboa

DESLOCADO-RELOCADO (2002)
“O real deve ser de uma certa maneira deslocado antes que possa ser relocado” (Ionesco).
DESLOCADO (1998-9): Iniciações por diferentes partes do corpo, diferentes usos de peso e ritmo, repetições, transformações.
RELOCADO (2002): Respostas às células coreográficas de DESLOCADO, abrindo espaços, descobrindo vieses, “desmontando (...) pedaço por pedaço, (...) reconstruir de outra maneira, substituindo ingredientes, deslocando-os, invertendo-os” (Calvino).
DESLOCADO-RELOCADO é uma série de construções/ desconstruções/ reconstruções, onde o corpo procura sua própria narrativa e o espectador é convidado a fazer suas próprias associações, montando seu percurso.
Criada em 2002, Rio de Janeiro.
Estreada em 02/11/2003 no Panorama RioArte de Dança, Espaço Cultural Sérgio Porto, Rio de Janeiro.
Apresentada em:
- O Masculino na Dança – Centro Cultural São Paulo, São Paulo, 05 a 09/11/03.
- IX Festival de Dança de Recife, Teatro Hermilo Borba Filho, 03/09/04, e Teatro Barreto Junior, 04/09/04
- Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro, 23 e 24/10/
- 14º Janeiro de Grandes Espetáculos, Recife, 18/01/08.
Solo
Duração: 20’
Concepção, Direção, Coreografia e Interpretação: Cláudio Lacerda Música: Gabrielle Roth, John Cage
Desenho de luz: José Geraldo Furtado

A CIDADE NO MEU CORPO (2001)
A integração na vida da cidade urbana. A aceitação por parte da cidade e seus viventes. A identidade que construímos para consegui-la. O corpo fica impregnado de cidade. O corpo com suas memórias sob/ sobre a pele.
“... a região de mim que eu chamei de Londres.” (adaptado de J. Genet [Espanha]).
Trabalho inspirado na experiência do coreógrafo como estrangeiro nos anos em que morou em Londres. Ao mesmo tempo uma canção de amor e ódio àquela cidade, esta obra trata das máscaras que compõem a identidade de um vivente da cidade urbana, usadas para se integrar e ser aceito em seu grupo social. Através da desconstrução do corpo, do movimento e da identidade, revela-se o que jaz por trás das máscaras e o corpo retoma seu poder de discurso no “gap” que foi aberto.
Criada em 2000 e 2001, Recife.
Estreada no VII FENART Festival Nacional de Artes, João Pessoa/PB (maio 2001).
Apresentada em:
- VII FENART - Festival Nacional de Artes – João Pessoa/ PB, 31/05/01.
- O Masculino na Dança/ Centro Cultural São Paulo - São Paulo, 31/10 A 11/11/01.
- VII Festival Nacional de Dança do Recife, 04/07/02
- Julho em Salvador, 27 e 28/07/02
- Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro, 23, 24 e 25/09/05.
Solo
Duração: 21’
Concepção, Direção, Coreografia e Interpretação: Cláudio Lacerda
Concepção de figurino e trilha sonora: Cláudio Lacerda
Música: Suede, Efeitos sonoros, Big Toxic, David Bowie
Iluminação: Horácio Falcão
Fotografia: Jorge Clésio

INTERFERÊNCIA AMORFA SOBRE PONTE DA BOA VISTA (2001)
Trabalho site-specific com quatro performers. Exploração espacial, postural, gestual e dinâmica da Ponte da Boa Vista, Recife. Parte do projeto Visões Contemporâneas do Recife.
Criada em Recife, entre agosto e outubro 2001, para o projeto Visões Contemporâneas do Recife, outubro 2001.
Quarteto – Site-specific
Duração: 40’
Concepção, Direção, Coreografia: Cláudio Lacerda
Concepção de trilha sonora e figurino: Cláudio Lacerda
Co-criaçção e Performance: Arnaldo Siqueira, Ronaldo Aguiar, Rosana Conde, Valéria Vicente.
Música: Schubert, Cocteau Twins, Gabrielle Roth, Diana, Kronos Quartet.

DUAL (2000)
Individualidade versus Socialização. O limite de uma choca-se com o limite da outra a partir do conflito do indivíduo que se envolve nas teias da sociedade e decide confrontá-la.
Iniciada durante o workshop com Susanne Linke, Viena, julho 1999. Finalizada em Recife, 2000.
Estreada no ‘Terças da Dança’ – Estúdio Nova Dança – São Paulo, novembro 2000.
Apresentada em:
- Terças de Dança, Estúdio Nova Dança, São Paulo, 14/11/00
- Julho em Salvador, 27 e 28/07/02
- O Masculino na Dança - Centro Cultural São Paulo, São Paulo, 04 a 08/08/04.
Solo
Duração: 25’
Concepção, Direção, Coreografia e Interpretação: Cláudio Lacerda
Concepção de trilha sonora e figurino: Cláudio Lacerda
Música: Efeitos sobre metais por Cláudio Lacerda; Ryuichi Sakamoto; Portishead.
Iluminação: Horácio Falcão.

O DIAFRAGMA FECHA (1999)
Decidi explorar:
a) Poses de revistas de moda, o narcisismo e a estilização em fotos de moda; o que é considerado ‘mainstream’, o modelo a ser seguido.
b) Tiques nervosos e deformações; o desvio do que é considerado normal.
Minha pergunta é ‘qual a linha divisória entre os dois?’ Não é o primeiro mais uma maneira de sufocar o que é humano em nome de uma sociedade sanificada?
Criada em 1998-9, Londres.
Estreada no Bonnie Bird Theatre - Laban Centre London, Londres/UK, maio 1999.
Apresentada em:
- PDDS (Professional Diploma in Dance Studies) Concert – Laban Centre London, Londres/ UK, 08 e 09/06/99
- Solstice Festival – Laban Centre London, Londres/ UK, 22 e 24/06/99
- IX Panorama RioArte de Dança, Rio de Janeiro, 19/10/00
- VII FENART - Festival Nacional de Artes, João Pessoa, 31/05/01
- III Circuito Carioca de Dança, Rio de Janeiro, 16, 17 e 18/06/02
- VII Festival Nacional de Dança do Recife, 04/07/02
- Encontro SESC de Dança, Nova Friburgo/RJ, 12/07/02
- V Festival de Artes da Cidade de Goiás/GO, 28/09/02.
Dueto
Duração: 10'30"
Concepção, Direção, Coreografia: Cláudio Lacerda
Interpretação: Cláudio Lacerda, Kirsty Mathieson/ Márcia Tinoco/ Mônica Barroso/ Cláudia Muller.
Concepção de trilha sonora e figurino: Cláudio Lacerda
Música: Big Toxic; Siouxsie and the Banshees.
Iluminação: Heather Green, refeita por Horácio Falcão.

DESLOCADO (1999)
Para este trabalho decidi não ter um tema narrativo. Explorei iniciações de movimento a partir de diferentes partes do corpo e diferentes usos de peso. A partir daí, criei frases e manipulei-as através de vários artifícios. Através da repetição destas frases, deixei o corpo seguir os próprios estímulos, tentando interferir o mínimo possível, procurando encontrar a narrativa do próprio corpo.
Criada em 1998-9, Londres.
Estreada no Bonnie Bird Theatre - Laban Centre London, Londres/UK, maio 1999.
Apresentada em:
- Solstice Festival – Laban Centre London, Londres/UK, 22 e 24/06/99
- Festival Nacional de Artes, João Pessoa, 30/05/00
- V Festival de Inverno de Campina Grande/PB, 15/08/00
- Mostra de Dança da UniverCidade (Convidado), Rio de Janeiro, 31/10/00
- Convidado de abertura do espetáculo do Grupo Grial, Sítio da Trindade, Recife, 09 e 10/03/01
- III Plataforma Coreográfica Internacional - IX Quinzena de Dança de Almada, Portugal, 25/10/01
- VI Festival Nacional de Dança do Recife,05 e 08/07/01
- Julho em Salvador, 27 e 28/07/02
- Encontro Laban 2002, Rio de Janeiro, 02/08/02
- “Mostra o seu que eu mostro o meu”, mostra de cinema independente, Rio de Janeiro, 01/11/2002
- III Mostra Migrações de Dança Contemporânea – UFF, Niterói/ RJ, 28/08/03.
Solo
Duração: 4'30"
Concepção, Direção, Coreografia e Interpretação: Cláudio Lacerda
Iluminação: Lee Curran, refeita por Horácio Falcão.
Música: Gabrielle Roth
Figurino: Cláudio Lacerda.